"A caridade sempre foi a força que me sustentou; tudo sempre valeu a pena, por causa dela... Quando ficava muito aborrecido comigo mesmo, com as minhas imperfeições e erros, procurava a periferia da cidade, visitando as favelas... Sempre encontrei na prática do bem a mensagem de consolação e o conforto espiritual de que me achava carente. (...) Trocava um pedaço de pão por energia para o dia seguinte."
(Chico Xavier)
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Conta uma legenda da tradição franciscana: Certo dia se surpreendeu Francisco a si mesmo muito alegre porque começava a degustar Deus em todas as coisas. Saiu pelos caminhos cantando e convidando a cantar. Passou por um pessegueiro e lhe disse: “Pessegueiro, meu irmão, fale-me de Deus!” E o pessegueiro estremeceu um pouco como sacudido por brisa leve. E floresceu totalmente como se nele tivesse irrompido a primavera. Francisco saiu mais alegre ainda. Passou por um ribeirinho que se represava naturalmente junto a uma sombra benfazeja. Disse-lhe Francisco embriagado de Deus: “Ribeirinho, meu irmão, fale-me de Deus!” E as águas começaram a borbulhar como se quisessem falar. Depois foram se acalmando até criar-se um espelho de água cristalina. Francisco olhou atentamente para a profundidade. E viu lá dentro o rosto de sua querida Clara. Saiu radiante e mais alegre.
Um pouco além encontrou, sentados num fio, um bando de passarinhos. “Passarinhos, meus irmãos, falem-me de Deus.” E os passarinhos começaram a piar e a repiar uma melodia que jamais se ouvira naquela região. Depois silenciaram. Formaram como uma cruz e subiram em flecha para o céu sereno. Francisco saiu cantarolando de alegria exuberante. Encontrou um homem com sua mochila às costas como se viesse de longa caminhada. Disse-lhe: “meu irmãozinho, fale-me de Deus!” E o irmão nada disse. Tomou Francisco pela mão e com carinho o conduziu consigo à cidade. Chegaram ao centro. Atravessaram a cidade e pararam na periferia onde moram os pobres. Foi à pequena praça, onde se busca a água escassa, onde estão as mulheres que lavam a roupa, os velhos que conversam, os mais pobres que esmolam, as crianças que brincam. Sentou-se junto à primeira roda. Abriu a mochila e foi distribuindo pão com mão generosa. Todos começaram a se aproximar. Recebiam o pão e se afastavam. A mão entrava e saia da mochila. O pão era distribuído fartamente.
E na medida em que os homens repartiam entre si o pão recebido, uns ajudando os outros, o pão miraculosamente não faltava da mochila e bastava a todos os necessitados. Depois, muito grave, apenas olhou para o céu e disse: “Pai-nosso”. Em seguida olhando em volta apenas disse: “O pão nosso!” Francisco entendeu e não se continha de tanta alegria porque encontrara Deus no partir o pão e nos irmãos pobres e necessitados que repartiam entre si o pão recebido.
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