Trecho do filme "Clara e Francisco" - Direção: Fabrizio Costa.
*****
*****
O povo
chamejante desceu até à baixada e começou a subir, lentamente, pelas curvas de
um caminho, até chegar à gruta. As rochas, iluminadas por aquelas luzes de
chamas, davam uma impressão indescritível.
Tinham
preparado, na entrada da gruta, um enorme presépio, com feno e palha. De um
lado, em pé, um burrinho comia o tempo todo. Do outro lado, um boi não menos
manso. Junto ao presépio, de pé, repleto de consolação e felicidade, o Pobre de
Assis esperava o começo da liturgia.
Francisco
aproximou-se do povo, colocando-se entre o presépio e os assistentes. Começou a
falar. Parecia que ia cair em pranto. Repetia muitas vezes: Amor! Amor! Amor!
Depois começou a repetir estas palavras soltas: Infância, Pobreza, Paz,
Salvação. Às vezes, parecia a ponto de chorar.
Mas,
aconteceu o inesperado. A ameaça de choro foi desaparecendo, pouco a pouco, e o
Irmão ficou completamente sereno, insensível e ausente. Esquecendo o povo,
começou a dirigir a palavra a “Alguém” que, supostamente, encontrava-se em cima
do presépio, como se não existisse mais ninguém no mundo. Agia como uma mãe com
seu bebê: sorria para ele, fazia-lhe gestos e usava expressões que as usam com
seus filhinhos, no berço.
Pronunciava
“Jesus”, “Menino de Belém” com uma cadência inefável. Era como se seus lábios
se untassem de mel, e agia como quem saboreia o doce que ficou nos lábios.
Repetia, muitas vezes, a palavra “Belém” como se fosse o balido de uma ovelha,
no estábulo de Belém.
Inclinava-se
para o presépio, como se fosse beijar alguém ou tomá-lo nos braços, como se
fizesse as carícias que as mães fazem para com seus filhinhos.
João
Velita garantiu ter visto, com os próprios olhos, o Menino Jesus adormecido. Ao
sentir as carícias de Francisco, o Menino despertou e sorriu para o Irmão. Isso
foi o que afirmou João Velita.
Foi uma
noite inesquecível. Todos os habitantes de Grécio tiveram a impressão de que
sua gruta tinha sido transformada numa nova Belém, e contavam milagres.
(Trecho do livro “O Irmão de Assis” de Inácio Larrañaga)
*****
Nenhum comentário:
Postar um comentário