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sexta-feira, 20 de março de 2009

Respeito pela Vida

Amigos com a licença do Dr. Flávio Mussa Tavares do blog Espiritismo Cristão, divulgo um dos comentários realizado na postagem intitulada: “Aborto e Estupro” (enviado por sua mãe). Trata-se da questão da menina de nove anos que encontrava-se grávida de gêmeos, fato que creio tenha abalado a todos e determinado muitos questionamentos, principalmente após o envolvimento da Igreja Católica no caso. Recordo-me que, após o conhecimento, o primeiro pensamento que ocorreu-me foram as palavras de Albert Schweitzer sobre a Reverência pela Vida, onde diz: “Respeito pela vida é assim o primeiro ato de manifestação consciente da vida em face de si mesma. O Bem é: conservar a vida, promover a vida e elevar ao máximo possível o teor de valorização das vidas que se revelam capazes de progredir.”
Ele traz ao nosso conhecimento uma resposta de Jean-Yves Leloup sobre o episódio (Jean é padre dominicano, doutor em Psicologia, Filosofia e Teologia), que transcrevo abaixo. Uma resposta, além de sábia, extremamente humana e, principalmente cristã, sobre a qual se deve refletir para despertar, mais que as nossas consciências, os nossos corações; em especial nesses dias em que se observa a iniquidade se multiplicando, causando o esfriamento do Amor na humanidade, como predisse Jesus.
Sugiro uma visita ao blog do Flávio para que se leia o seu belo e sensato comentário sobre o triste acontecimento, onde ele esclarece o mesmo, à luz da Doutrina Espírita: “O dilema é resolvido pelo Livro dos Espíritos, que autoriza, na questão 359, o aborto para resguardar a vida materna: Dado o caso em que o nascimento da criança pusesse em perigo a vida da mãe dela, haverá crime em sacrificar-se a primeira para salvar a segunda? — Preferível é se sacrifique o ser que ainda não existe a sacrificar-se o que já existe."
Pergunta:
Uma menina de nove anos é estuprada pelo padrasto e engravida de gêmeos. A justiça e a medicina concordam que ela não sobreviveria à gestação e concordam com o aborto. Os arcebispos de Olinda excomungam todos os envolvidos no aborto desde a diretora do hospital ao motorista da ambulância, a enfermeira que desinfeta os instrumentos, médicos e a mãe damenina. Em sua opinião, como reatar a conexão com o Divino neste ato da Igreja Católica?
A Resposta de Jean-Yves Leloup:
Nós poderíamos perguntar o que teria feito o Cristo. Eu acho que Ele não teria escutado nem o juiz nem o arcebispo, Ele teria ido ver a menina para cuidar dela e escutar, naquele momento, aquilo que a Vida estaria Lhe inspirando.
É claro que se a vida da mãe e a vida da criança estão em perigo é preciso escolher que ao menos um dos dois sobreviva, se os dois não podem sobreviver. Depois, é preciso escutar o sofrimento desta menina e, o que pode ser ainda mais difícil, saber o que conduziu o padrasto a esta atitude.
Contudo, tanto em um caso como em outro, nós não estamos em uma atitude de julgamento, em uma atitude onde devamos fazer isto ou aquilo. Trata-se de escutar a pessoa que está sofrendo, escutar aquilo que a Vida deseja nela, pois a vontade de Deus é a vontade da Vida que quer viver.
Como acrescentar sofrimento ao sofrimento? O que pode nos parecer dramático é o fato da culpa ser acrescentada ao sofrimento - acrescentamos mal ao mal....
No Evangelho, nós nunca vimos Jesus excomungando alguém e, antes de tudo, será que é possível excomungar alguém? O diabo não pode nos separar de Deus se permanecermos fiéis à Sua Presença. Se o diabo não pode nós separar de Deus, um arcebispo também não!
Confesso que há alguma coisa que eu não compreendo nisto tudo: é este encadeamento de excomunhões. Se eu estivesse de mau humor, eu diria que a única pessoa que o arcebispo não excomungou é o padrasto que é o culpado... No entanto, não é essa a questão. Nenhuma igreja, nenhum ser humano tem o poder de nos excomungar: nós não podemos separar um ser da Fonte do Ser, não podemos separar a consciência da Fonte da Consciência, mas podemos envenenar e perturbar a vida dos outros...
Isso é grave. Normalmente, a função da igreja não é a de nos envenenar a vida, mas a de curar o nosso sofrimento, de aliviar a nossa dor. Aliviar a dor dessa menina, aliviar a dor daqueles que a cercam e não culpabilizar aqueles que estão tentando ajudá-la, pelo contrário, ajudá-los no seu discernimento para saberem o que é melhor para essa menina.
Essa é a função da igreja. Não é sua função condenar ou excomungar, senão ela se tornará uma instituição como qualquer outra que está a serviço do poder e o poder sobre as almas é algo muito perigoso, mais perigoso do que o poder sobre os corpos. É por isso que sempre é bom voltarmos aos Evangelhos ou, simplesmente, voltar ao nosso coração e não nos deixarmos impressionar por leis externas, mesmo as leis religiosas. A lei a qual obedecemos é a lei da Vida e o espírito que está em nós é o Espírito da Vida. É isso que dirá São Paulo. Não dependemos mais de leis externas. Trata-se de escutar a Vida em nós, de escutarmos a Luz em nós, de escutar o Amor em nós, de escutar a Presença do Eu Sou que É, porque aí está o discernimento. No entanto, algumas vezes é preciso coragem para encarar estas instituições que talvez estejam se esquecendo dessa dimensão do ser. Muitas vezes, estas instituições são vítimas de suas próprias ideologias.
É interessante escutar os argumentos do arcebispo de que não devemos destruir a vida. Mas vocês podem sentir que a sua teoria está separada da realidade. Seus grandes princípios, que não são ruins, esquecem aquele caso em particular. E existem apenas casos particulares. Não podemos legislar de uma maneira geral porque o amor é sempre o amor por um caso em particular. O que é verdadeiro para um pode não ser verdadeiro para o outro. A nossa prática de meditação pode nos ajudar a nos tornar atentos a essa via interna, a essa lei interna, que não julga a priori, nem com princípios políticos, nem com princípios médicos, nem com princípios religiosos, mas que está em contato com a Realidade; que escuta o que a Vida em outra pessoa e o que a Vida em nós pede.
Talvez essa seja a condição para exercermos um ato justo, uma condição que deixe o nosso coração em paz mesmo que, à nossa volta, não nos compreendam. É importante o critério dessa paz interna, esse sinal de que existe uma unidade no interior de nós mesmos.
Penso nas palavras de São Serafim de Sarov: "Encontre a paz no interior de você mesmo e uma multidão será salva ao seu lado..."
Ache a paz no interior de você mesmo e você descobrirá o gesto justo que não vai ser uma ideologia, ou um grande princípio, mas o respeito pela Vida na sua fragilidade e na sua vulnerabilidade.
Teríamos muito a dizer sobre todas essas questões, mas o que eu acho importante é que cada um descubra a resposta que vem do seu interior. Ninguém tem o direito de pensar no seu lugar. O papel de um ensinamento, o papel de uma comunidade ou de uma igreja não é dizer o que devemos fazer, aquilo que é bom e o que é ruim, mas de nos dar elementos para esclarecer o nosso discernimento, para que nós nos tornemos inteligentes, uma inteligência esclarecida e iluminada pela compaixão.
*****
(Imagem – desconheço autor)

5 comentários:

Melissa disse...

Oi Benja!
Como gostei desse post! Eu confesso que havia ficado um tanto dividida quanto a esta questão... pensava na criança, pensava no que prega a igreja contra o aborto... E vendo dessa forma, sem julgar, mas com o discernimento que Deus dá para cada um de nós quando o consultamos, podemos ter uma resposta. Que a criança seja ouvida e que o amor a conduza. Beijos

Rose disse...

Esclarecedor, Benja!
Já havia lido o post de Flávio e acho que este assunto deve ser tratado com muita responsabilidade e discernimento à luz dos ensinos do Cristo.
Em tudo,o Amor nos dá a resposta.
Um abraço,
Rose.

Marilac disse...

Oii Benja,
Esse post toca em um assunto delicado!Eu acompanhei a polêmica pelos jornais e confesso que fiquei muito triste com a decisão da igreja.Concordo que seja um assunto complicado,e que alguns principios devem ser defendidos sempre.Mas esse caso era especial,uma criança de apenas 9 anos vivendo um drama imenso.Gostei da opinião de Jean-Yves Leloup, ele ao dizer que devemos refletir para despertar, mais que as nossas consciências, os nossos corações; toca num ponto essencial.Só com amor e a luz dos ensinamentos de Cristo poderemos agir com sabedoria.


Abraços
Marilac

Ela disse...

É por estas e outras , que eu te admiro muito.
abraço

Carlos Pereira disse...

Olá irmão Benja,

Como vai?,
Essa é uma questão séria e bastante polêmica não é mesmo?,
tenho uma daquelas tarefinhas que nos aparece de vez em quando para se possível você possa participar ok?, faça-me uma visita.

P.S: Desculpe-me, esse comentário era para ter sido desse post e não do post "O Amigo", portanto se puder excluí-lo de lá ficaria muito grato.

Abraço fraterno,
Carlos Pereira

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