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“Cristo está na cruz: aproximemo-nos dele, participemos de seus
sofrimentos para ter parte também em sua glória. Cristo jaz entre os mortos:
morramos ao pecado para vivermos para a justiça. Cristo repousa num túmulo
novo: purifiquemo-nos do velho fermento, tornemo-nos uma massa nova e sejamos
para ele um lugar de repouso. Cristo desce à mansão dos mortos: desçamos também
com ele pela humilhação que exalta, a fim de ressuscitarmos, sermos exaltados e
glorificados com ele, sempre vendo e sendo vistos por Deus. Vós que sois do
mundo, sede livres; vós que estais amarrados, saí; vós que estais nas trevas,
abri os olhos para a luz; vós que estais no cativeiro, libertai-vos; cegos,
levantai os olhos. Desperta, Adão que dormes, levanta-te dentre os mortos, pois
Cristo, nossa ressurreição apareceu!”
São João Damasceno
(Lecionário Monástico, II)
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Merece
ser transcrito neste contexto o episódio acontecido em Greccio num domingo de
Páscoa e que revela a densidade do itinerário pascal de Francisco:
“Em certo
dia de Páscoa, os irmãos do eremitério de Greccio, tinham posto a mesa melhor
do que era costume, com guardanapos e copos. O Pai ao descer da cela, viu a
mesa suntuosamente bem provida e ornamentada: mas este risonho espetáculo
entristeceu-o. Retirou-se sorrateiramente na ponta dos pés, pôs o chapéu dum
pobre ali presente, pegou num bordão e saiu. De pé, junto da porta, esperou que
os irmãos se sentassem à mesa; não costumavam esperar quando ele não aparecia
ao sinal dado. Apenas começaram a comer, este autêntico pobre pôs-se a gritar à
porta: “Por amor do Senhor dai esmola a um peregrino pobre e doente” – “Entra,
bom homem, responderam os irmãos, por amor
daquele que invocaste!” Entrou e apresentou-se aos
irmãos sentados à mesa: que espanto para aqueles burgueses, à chegada de tal
peregrino! A seu pedido deram-lhe uma tigela. Sentou-se no chão a um canto e
pousou a tigela. “Agora estou sentado como um verdadeiro frade
menor! Nós devemos, mais do que os outros
religiosos, sentir-nos na obrigação de imitar os exemplos da pobreza que nos
deu o Filho de Deus. Esta mesa bem provida e ornamentada, julguei-a indigna dos
pobres, que andam a mendigar de porta em porta. Meus irmãos, nós somos os
verdadeiros hebreus, atravessando o deserto deste mundo como peregrinos e
estrangeiros, e devemos sempre com a alma de pobre, celebrar Páscoa do Senhor,
isto é, a passagem deste mundo para o do Pai.”
(Em “A
Páscoa de São Francisco”,
de Motte e Geraldo Hégo, Braga)
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