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sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Singela Lembrança


Versos escritos na primeira página do
“IMITAÇÃO DE CRISTO”
Quando meu pobre coração doente
Cheio de mágoas, desolado e aflito,
Sinto bater descompassadamente,
Abro este livro então: leio e medito.

Leio e medito nesta voz celeste
Que vem de Além, qual mensageiro santo,
Trazer um ramo de oliveira agreste
Aos que navegam sobre o mar do pranto.

Meus pobres olhos sempre rasos d’água,
Por um instante deixam de chorar;
E nas asas da Prece a minha mágoa
Vai-se um momento para além Mar.

E dentro d’alma, nua de esperança,
Eu penso ouvir como n’um sonho doce
Alguém que fala n’uma voz tão mansa
Como se o eco de um suspiro fosse.

“Vem a mim se padeces; no meu seio
Corre a fonte serena da Alegria...
Eu sou Aquele que sorrindo veio
Dourar as trevas da Melancolia.

Eu sou um branco e pálido sorriso
Iluminando a tua solidão:
Faze de minha Cruz um Paraíso
E de meu Coração teu coração.

Faze-te humilde, humilde e pequenina,
Como as crianças como os passarinhos...
Escuta e guarda a minha lei divina,
No sacrário ideal dos meus carinhos.

Não sabes quanto padeci no Horto,
Por ti, por teu amor, filha querida?
Eu sou o Anjo formoso do conforto,
Venho trazer o bálsamo à ferida.

Carrega a tua Cruz e vem comigo
Pela estrada da Dor e do Tormento.
Eu serei teu irmão, teu sol, o amigo
Que em lírios mudará o sofrimento.

Venho trazer a Paz... Longe da terra
A Paz habita... Ao pé do Santuário,
Ó minha filha, a doce paz se encerra
Dentro da História, dentro do Sacrário.

Felizes os que sofrem e no meu seio
Recolhem suas queixas como preces;
Volta o pesar ao Céu de onde ele veio...
Feliz, ó sim! Feliz tu que padeces!”

E a mesma voz escuto, o mesmo canto,
De cada vez que o meu olhar ungido
Cai docemente neste livro santo,
Lembrança amiga de um irmão querido.

Amo tanto o meu livro, ele é tão puro,
Consola tanto o coração aflito!
Ah! Desta vida no caminho escuro
Ele será meu talismã bendito!
Auta de Souza
*****
Nota Biográfica: “Auta de Souza nasceu em Macaíba, pequena cidade do Rio Grande do Norte, em 12 de setembro de 1876; educou-se no Colégio São Vicente de Paulo, em Pernambuco, sob a direção de religiosas francesas; e faleceu em 07 de fevereiro de 1901, na cidade de Natal. Uma biografia simples como os seus versos e o seu coração...”. Palavras de Henrique Castriciano, irmão de Auta.
Ficou órfã de mãe antes dos três anos de idade, e de pai antes dos cinco anos; tendo sido criada por sua avozinha Dindinha, que se lhe tornara mãe extremosa. A ela dedicou os versos abaixo:
Minh’alma vai cantar, alma sagrada!
Raio de sol dos meus primeiros dias...
Gota de luz das regiões sombrias
Da minha vida triste e amargurada.

Minh’alma vai cantar, velhinha amada!
Rio onde correm minhas alegrias...
Anjo bendito que me refugias
Nas tuas asas contra a sina irada!
Tristão de Ataíde ao prefaciar a 3ª edição do livro Horto (único livro que Auta escreveu em vida), disse: “Sua poesia alcançou uma intensidade de sentimento cristão que até hoje não envelheceu (...). Auta de Souza sofreu unida à Cruz do Salvador. E foi esse o grande, o luminoso consolo de sua vida. Fez versos por amor da Poesia, por um amor tocante, puríssimo, da Poesia e não para aparecer ou comunicar uma mensagem. Fez versos para si e para aqueles que mais de perto a cercavam. Nunca sonhou com a glória literária. Nem mesmo com esse eco que só depois de morta veio encontrar no coração dos simples, onde toda uma parte dos seus poemas encontrou a mais terna repercussão. E esse sentimento de absoluta pureza é o que mais encanta nos seus poemas. Auta de Souza viveu em estado de graça e os seus versos o revelam de modo evidente.”
Ao refletir sobre sua morte escreveu:
Quando eu deixar a terra, dá-me flores
Boiando à tona de um sorriso teu;
Que os risos das crianças são andores
Onde os anjos nos levam para o céu...
Quando eu deixar a terra, quero flores!

3 comentários:

Rose disse...

Também me lembrei dessa grande alma poética lá no meu espaço!...
Um carinho,
Rose.

Carol Timm disse...

Benja,

São lindos e feito preces os poemas de Auta.

Ao ler o último deles, pensei assim:

Quando eu partir, senhor, faz do céu meu último abrigo. Aqui na terra, deixo todos os meus poemas, não preciso mais levá-los comigo!

Beijos,
Carol

Marilac disse...

Benja,
Em sua simplicidade os poemas de Auta são como raios de sol que nos ensinam a ter esperança e a buscar apoio em Cristo para todos os momentos da nossa vida.

A vida tem sempre momentos dificeis, sem segurarmos na mão de Deus seria impossivel seguir em frente.

bjs
com carinho,

Marilac

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