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sábado, 1 de março de 2008

Se...

Se, ao final desta existência,
Alguma ansiedade me restar
E conseguir me perturbar;
Se eu me debater aflito
No conflito, na discórdia…

Se ainda ocultar verdades
Para ocultar-me,
Para ofuscar-me com fantasias por mim criadas…

Se restar abatimento e revolta
Pelo que não consegui
Possuir, fazer, dizer e mesmo ser…

Se eu retiver um pouco mais
Do pouco que é necessário
E persistir indiferente ao grande pranto do mundo…

Se algum ressentimento,
Algum ferimento
Impedir-me do imenso alívio
Que é o irrestritamente perdoar,

E, mais ainda,
Se ainda não souber sinceramente orar
Por quem me agrediu e injustiçou…

Se continuar a mediocremente
Denunciar o cisco no olho do outro
Sem conseguir vencer a treva e a trave
Em meu próprio…

Se seguir protestando
Reclamando, contestando,
Exigindo que o mundo mude
Sem qualquer esforço para mudar eu…

Se, indigente da incondicional alegria interior,
Em queixas, ais e lamúrias,
Persistir e buscar consolo, conforto, simpatia
Para a minha ainda imperiosa angústia…

Se, ainda incapaz
Para a beatitude das almas santas,
Precisar dos prazeres medíocres que o mundo vende…

Se insistir ainda que o mundo silencie
Para que possa embeber-me de silêncio,
Sem saber realizá-lo em mim…

Se minha fortaleza e segurança
São ainda construídas com os materiais
Grosseiros e frágeis
Que o mundo empresta,
E eu neles ainda acredito…

Se, imprudente e cegamente,
Continuar desejando
Adquirir,
Multiplicar,
E reter
Valores, coisas, pessoas, posições, ideologias,
Na ânsia de ser feliz…

Se, ainda presa do grande embuste,
Insistir e persistir iludido
Com a importância que me dou…

Se, ao fim de meus dias,
Continuar
Sem escutar, sem entender, sem atender,
Sem realizar o Cristo, que,
Dentro de mim,
Eu Sou,
Terei me perdido na multidão abortada
Dos perdulários dos divinos talentos,
Os talentos que a Vida
A todos confia,
E serei um fraco a mais,
Um traidor da própria vida,
Da Vida que investe em mim,
Que de mim espera
E que se vê frustrada
Diante de meu fim.

Se tudo isto acontecer
Terei parasitado a Vida
E inutilmente ocupado
O tempo
E o espaço
De Deus.
Terei meramente sido vencido
Pelo fim,
Sem ter atingido a Meta.

***
(Texto - Hermógenes)
(Imagem - desconheço autoria)

4 comentários:

Carol Timm disse...

Benja,

Que sincronicidade!

Eu estava lendo esse belo texto e pensando que talvez conhecesse...
é do Hermógenes!

Ontem comprei meu primeiro livro dele... já estou lendo e gostando muito da forma como escreve.

Beijos e bom domingo!
Carol

Rose disse...

"Benja":
Este texto nos adverte para o bom aproveitamento do tempo, da vida...
O que pensamos, fazemos ou até deixamos de fazer será, inevitavelmente, a nossa marca.
Quando penso na autenticidade, penso no que ela é em essência: a apropriação da autoconsciência. Quem busca ser autêntico procura, em primeiro lugar, se conhecer e, conhecendo-se, há de ser mais delicado ante as verdades que precisar expressar. Quanto mais próximos de Deus, mais conscientes do que somos. Quanto mais conscientes de nós , mais compassivos com os outros!...
Paz! Luz!Harmonia!
Carinho,
Rose.

Marilac disse...

Benja
Que sincronicidade!!! Hoje conversei com Carol que me contou sobre o livro do Hermógenes, e fiquei com vontade de ler e conhecer mais sobre ele.Ai venho aqui e esse texto profundo, que funciona como uma parada para reflexão...
Esse texto como bem resumiu a Rose nos adverte para usar com sabedoria e amor o dom da vida!

Bjs
uma semana abençoada
Marilac

Gege disse...

Adorei este texto!!! fantastico!!

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