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domingo, 28 de fevereiro de 2010
Conheça Você Mesmo
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
"Você já viu Deus?"

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Minha mãe era analfabeta, nunca quis aprender a ler. Certa vez eu lhe trouxe um caderno e um lápis bentos pelo Papa Paulo VI para ver se ela se animava a aprender. Minha mãe jogou longe, dizendo: “Para que eu quero aprender a ler e escrever se tenho onze filhos que fizeram universidade, quase todos doutores. Para quê? Eles sabem por mim. Não preciso eu estudar e saber.”
Mas era uma mulher de grande sabedoria existencial e profunda piedade.
Eu costumava gravar coisas que escrevia para ela escutar. Minha mãe escutava e dizia: “Onde você aprendeu tudo isso? Eu nunca te ensinei tais coisas!”
Ao ouvir uma das gravações em que eu falava da experiência de Deus, ela me olhou fundo e fez a pergunta: “Você já viu Deus?”
Eu respondi de pronto: “Minha mãe, a gente não vê Deus. Deus é espírito, é invisível.”
Ela deu como que um suspiro, colocando a mão no peito, me olhou com infinita tristeza e disse: “Você é padre há tantos anos e nunca viu Deus?”
Eu insisti: “Mãe, a gente não vê Deus.”
Ela retrucou: “Você não vê Deus, mas eu O vejo todos os dias. Quando o sol se põe lá no horizonte. Deus passa com um manto fantástico, lindo. Ele vem sempre sério, e teu pai que já faleceu vem atrás, olha para mim, me dá um sorriso e segue junto com Deus. Eu vejo Ele todos os dias.”
Eu fiquei parado, me perguntando: “Quem é o teólogo aqui, ela ou eu? A analfabeta ou o doutor em teologia?”
Temos que aprender com as pessoas que vivem tais experiências. Porque a fé é uma experiência tão global que entra pelos olhos, entra no coração, entra na fantasia, entra nas projeções. Deus é substância da sua própria substância.
Essas pessoas não crêem em Deus. Elas sabem de Deus porque O viram, porque O experimentaram.
LEONARDO BOFF
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(Fotomontagem - desconheço autor)
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010
Bem-te vi… Bem-te-vi…

Bem-te vi… Bem-te-vi…
Que terás visto?
Há quanto tempo tu avisas, bem-te-vi…
Bem-te-vi da minha infância, sempre a gritar,
e não viste nada.
Meu aminguinho, preto-amarelo.
Em que ninho nasceste, de que ovinho viste,
e quem te ensinou a dizer: Bem-te-vi?…
Bem te vejo, queria eu também cantar e repetir
para ti: Bom dia, bem te vejo, te escuto.
Bem-te-vi sobrevivente
de tantos que já não voam sobre o rio,
nem pousam nas palmas dos coqueiros altos…
Mostra para mim, meu velho companheiro de uma infância ultrapassada, tua casa, tua roça, teu celeiro, teu trabalho, tua mesa de comer, tuas penas de trocar,
leva-me à tua morada de amor e procriar.
Vamos ao altar de Deus agradecer ao criador
não desaparecerem de todo os Bem-te-vis
dos Reinos de Goiás.
Canta para mim, tão antiga como tú,
as estorinhas do passado.
Bem-te-vi inzoneiro, malicioso e vigilante.
Conta logo o que viste, fuxiqueiro do espaço,
sempre nas folhas dos coqueiros altos,
que também vão morrendo devagar como morrem os coqueiros,
comidos de velhice e de lagartas.
(Foto - Flávio Brandão)